Um road movie instigante,sensível,maravilhoso que nos deixa ser o protagonista,uma vez que o personagem narra o tempo todo sem aparecer diante da câmera subjetiva de um diretor que nos arrebata com inteligência e inovação. A paisagem seca,árida do sertão harmoniza-se com o deserto interior de José Renato, geólogo que está viajando a trabalho, avaliando o possível percurso do canal da transposição do Rio São Francisco.
A trilha sonora interage bem com a saudade da "galega" que é botânica e gosta de flores... Ele gosta de pedra...Talvez daí o "pé-na-bunda" que levou dela? A monotonia toma conta. Ele tenta fingir que ela o espera em casa, até que a realidade nua e crua dos aspectos físicos e emocionais da vida nos rincões sertanejos, o toca.
Além do necessário para seu trabalho, José Renato grava o que vê, então experimentamos sensibilidade e delicadeza com belas e reflexivas imagens que revelam o potencial e latente impulso do viver verdadeiramente uma "vida-lazer” (ter uma casa filhos e alguém que esteja sempre presente) com que sonha a prostituta e todos nós.
A imagem meio surreal do colchão jogado ao léu,colorido,florido num chão seco, uma árvore resistente, algumas cabras. Uma possível noite úmida com alguém. Um menino que cheira a "testosterona". Um casal que dança com seu bebê nos braços. A feira de Caruaru em meio ao caos da arrumação... Há roda gigante, circo e naturalmente estrada com bela e mutante luz.
José Renato viaja porque ama. Não cura a dor,mas "alivia o juízo",e talvez não volte, ou só quando o dever chamar. O que ele vê o leva à transcendência. Viajando suplanta o deserto afetivo e seus temores. As imagens instigantes fazem a gente (ser) tão forte. Saímos de uma estrada físico-emocional árida e seca para uma com bastante água: "Os homens de Acapulco" mergulhando. E o diretor nos deixa ser um caminho, uma verdade e a vida.
Rubeneide Araújo – Ceja Cícero Franklin Cordeiro - Arcoverde/PE
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